quinta-feira, 19 de maio de 2011

Clássicos na Crítica: A Princesa e o Sapo


"Lá no Sul tem uma cidade
Por onde o rio desce
Onde as mulheres são beldades
E os homens enlouquecem

Onde a música começa cedo
E continua até o sol raiar
Quando ela toca não é brinquedo
E você também pode experimentar

Venha logo e traga alguém
Pintaremos a cidade também
Sinta a doçura que a vida tem
Dentro de Nova Orleans"


Nova Orleans. Esse é cenário que a Disney escolheu para seu esperado retorno ao campo da animação 2D em 2009, depois de cinco anos sem usar a tecnologia em seus clássicos. Levando o fato de que as últimas animações do estúdio não seguiam os passos dos grandes clássicos, contando histórias não ligadas aos contos de fadas, como Nem Que a Vaca Tussa ou Irmão Urso, A Princesa e o Sapo veio com o objetivo de trazer de volta a época de glória dos clássicos.

O filme conta a história de Tiana, jovem humilde que vive para o trabalho, com o sonho de um dia realizar o seu sonho, e também o do seu falecido pai, de abrir um restaurante que faça muito sucesso por toda Nova Orleans. Ao encontrar por acaso um sapo que se intitula Príncipe Naveen, da Maldônia, Tiana tenta ajudá-lo a voltar à forma humana dando um beijo nele, mas ao invés de quebrar o feitiço, Tiana também se transforma em sapo. Juntos então, Tiana e Naveen partem em uma jornada pelo pântano ao lado de seus novos amigos Louis e Ray em busca da Mama Odie que pode ajudá-los a quebrar o feitiço, criado pelo homem da sombra e mestre do vodu, Dr. Facilier.

Confesso a todos que fui para o cinema esperando desse filme algo muito parecido com A Bela e a Fera, A Pequena Sereia, ou Aladdin. Só não esperava algo melhor que O Rei Leão, porque O Rei Leão, é O Rei Leão. Mas enfim, vamos focar no que interessa. Saí da sala um tanto quanto decepcionado. Não pela técnica ou qualidade do filme que tinha acabado de ver, mas sim por não ter sentido uma emoção tão forte quanto a que senti quando vi outros clássicos pela primeira vez. Quero deixar claro que essa crítica não é uma crítica negativa. Gosto muito desse filme. Só vou destacar alguns pontos que senti falta ou não gostei do longa.

Primeiro de tudo, a trama. Quando vi o trailer e consequentemente tive meu primeiro contato com a história do filme, fiquei interessadíssimo na trama, nos personagens e no desenrolar da história. Porém o que vi no filme se mostrou ser exatamente o que eu tinha visto no trailer! Nenhuma surpresa ou uma trama mais emocionante ou épica por trás. A questão é essa. Faltou o fator épico nesse filme. Faltou a mágica e o encantamento (e até o irreal) que recheiam os outros clássicos Disney. O filme começa maravilhosamente bem, escancarando a injustiça social logo na primeira cena, com Tiana ouvindo a história do Príncipe Sapo ao lado de Charlotte, menininha mimada, filha de um grande fazendeiro do sul e que tem tudo o que quer. Anos se passam e Tiana, agora na faixa dos 18 anos precisa se acabar dia e noite (literalmente) pra juntar moedinhas pra um dia realizar seu sonho. Enquanto isso, Charlotte continua mimada como sempre fazendo de tudo pra conseguir o que quer de seu pai. Ao mesmo tempo, o Príncipe Naveen chega à Nova Orleans falido e em busca de uma garota rica para casar e sair da falência. Porém Naveen só está em busca de aproveitar a vida e não tem o mínimo senso de responsabilidade. É aí que ele se depara com o Dr. Facilier que, ao enganá-lo e dizer que vai ajudá-lo, acaba transformado o príncipe em Sapo. Logo em seguida Tiana encontra Naveen no baile à fantasia que a família de Charlotte dá em homenagem ao príncipe. É aí que Tiana vira sapo, e ambos vão parar no pântano, longe de Nova Orleans. A partir desse ponto, o filme perde completamente o ritmo e adquire um tom de aventura por demais infantil.

“Claro, é um filme infantil!” vocês podem dizer, mas o tom de A Princesa e o Sapo é diferente do estilo de aventura presentes em Mulan ou Aladdin, por exemplo. Enquanto Tiana e Naveen tentam chegar a Nova Orleans, a história foca apenas em personagens secundários que aparecem um atrás do outro. Primeiro Louis. Ele se apresenta e canta “Quando Formos Humanos” que fala sobre como ele vai levar o casal de sapinhos até a Mama Odie para que todos eles se tranformem em humanos. Logo depois vem Ray, que também promete levá-los até a Mama Odie e canta uma canção sobre isso, junto com sua família de vagalumes, na também divertida, porém repetitiva, “Vamos Levar Vocês”. Os dois personagens são encantadores, porém abusam de expressões exageradas, principalmente Louis. Mas destaco aí o momento de romance, quando Tiana e Naveen começam a notar que estão gostando um do outro e Ray canta “Ma Bela Evangeline” em homenagem ao seu amor platônico pela estrela mais brilhante do céu. Amor esse que rende, na minha opinião, o único momento realmente emocionante do filme, já no final do longa que me fez derramar algumas lágrimas pelo vagalume sonhador.

O ritmo do filme só volta a acelerar já perto do clímax, quando Naveen e Tiana descobrem que, para voltar ao normal, eles têm até a meia-noite do dia do carnaval para fazer Charlotte beijar Naveen. Durante toda a dificuldade para conseguir tal feito, eles ainda precisam enfrentar o Dr. Facilier, que, desesperado para impedir a quebra do feitiço, utiliza todo tipo de magia negra para atrapalhar o casal de sapos. Destaco aqui outro ponto fraquíssimo do filme: O Dr. Facilier como vilão, é ótimo cantor. Suas atitudes, apesar de malignas e astutas, só são justificadas perto do fim do longa e mesmo assim, a justificativa é péssima. Nada comparado aos motivos de Scar fazer o que faz, ou Úrsula, ou Cruela Devil, ou até mesmo Jafar, que já comentei não achar um vilão muito interessante também. Seu momento de glória com certeza é o momento de transformação de Naveen em sapo, quando ele canta “Amigos do Outro Lado”. Apesar do vilão sem graça, tenho um fraco pelas músicas dos vilões da Disney, e a música do Dr. Facilier é simplesmente empolgante! Outra cena muito boa de Facilier é no clímax, quando ele cria uma ilusão para Tiana para tentar convencê-la a fazer o que ele quer e assim conseguir o seu tão desejado restaurante.

Mas não falemos mais de coisas ruins do filme. Falemos do que A Princesa e o Sapo tem de bom! E o que mais tem de bom nesse filme é música. Apesar de algumas serem desnecessárias e não terem propósito maior além de repetir a mesma idéia para o expectador, a trilha sonora do filme é divertida, alegre e muito musical. Não podia ser diferente, afinal, a história do filme se passa em Nova Orleans, berço do Jazz e do Blues, estilos musicais cheios de personalidades e musicalmente riquíssimos. Randy Newman, responsável pela letras e pela trilha sonora do filme foi genial e criou músicas cheias de referências e melodias ligadas ao Jazz e ao Blues. Além disso, o filme homenageia Ray Charles e Louis Armstrong através dos nomes dos personagens Ray e Louis. O próprio Louis é um tributo a todos os fãs de Jazz que, assim como eu, se identificam com seu jeito eufórico sempre que a música se torna assunto na história.

Como minhas canções favoritas, destaco a canção do Dr. Facilier, já mencionada, e as concorrentes ao Oscar de Melhor Canção Original, “Quase Lá”, cantada por Tiana enquanto sonha com seu futuro famoso restaurante, e “Lá Em Nova Orleans” que é a música de abertura e a última música do filme e que possui uma musicalidade contagiante. Como já comentei, as músicas do meio do longa, cantadas por Louis e Ray são consideravelmente repetitivas quanto à mensagem que se quer passar e não são exatamente minhas favoritas no filme. Porém destaco a música que a Mama Odie canta, “Cavar Mais Fundo”. Além de ter uma batida muito boa, ela é importante para mostrar a Tiana e a Naveen o que eles “realmente” precisam fazer para conseguir o que querem.

Observação pessoal: Adoro a música que toca nos (belíssimos) créditos finais, que não é cantada no filme, e é interpretada por Ne-Yo e Cassandra Stein (que misteriosamente não é creditada nos créditos), “Never Knew I Needed”. É linda!


Outro ponto forte do filme é a animação em si. Com uma qualidade superior à maioria dos clássicos antigos da Disney, devido ao avanço da tecnologia e técnica da animação 2D, o filme possui uma fotografia forte na maioria das cenas do pântano, com cenas amareladas, abusando de um tom que remete à dificuldade que o sol tem de chegar aos pântanos, lugares tradicionalmente úmidos. Já nas cenas ligadas à magia negra do Dr. Facilier, temos tons florescentes, abusando do roxo, verde, azul e rosa. Destaco também a cena que Tiana canta “Quase Lá”, que se passa quase toda com um estilo de animação e traço de desenho diferente do resto do filme, para destacar o tom “sonhador” da personagem, que se baseia em um desenho para imaginar seu restaurante.

Ainda no quesito referências, destaco a Mama Odie, que é quase um Mestre Yoda no filme, e altamente adorável e engraçada. É de longe minha personagem favorita do longa. Pena que pouco aparece na história. Outro ponto que destaco é a dublagem. Rodrigo Lombardi é responsável pela dublagem do Príncipe Naveen, e devo dizer que faz seu papel de forma muito satisfatória. Ao contrário de Luciano Huck, também um global que foi chamado pela Disney pra dublar Enrolados, Lombardi faz uma voz que condiz com o personagem e que não liga o expectador diretamente ao dublador, diferente de Huck, que fazia toda a platéia gritar “É Luciano Huck!” em sua primeira cena. Mas vou deixar pra falar desse caso quando eu falar de Enrolados. Não posso deixar também de elogiar Kakau Gomes, que dubla Tiana e canta maravilhosamente bem nas músicas do filme.

Apesar de achar o filme pouco inovador em sua trama, A Princesa e o Sapo merece um lugar entre meus favoritos por ser o primeiro longa animado da Disney a ter uma princesa negra. Algo que eu sempre imaginei como algo interessante a ser explorado pelo estúdio. Até mesmo antes de ouvir falar no projeto de A Princesa e o Sapo. Muito se falou sobre isso antes e depois do filme ser lançado. Muitos disseram que a Disney foi sínica em criar uma princesa negra, mas tranformá-la em sapo por 80% do longa, fazendo o expectador esquecer assim o lado “racial” que ela representa. Na minha opinião, acho bobagem. Não dei a mínima pra esse detalhe quando assisti o filme pela primeira vez, e até hoje não ligo. O importante é a história de Tiana, e o que aprendemos com a mesma, e não sua cor e o quanto ela é diferente das outras princesas Disney. Pra mim, ela é tão importante (e linda) quanto Bela, Cinderela ou Branca de Neve.

A Princesa e o Sapo possui uma mensagem muito bonita nas entrelinhas e nos faz pensar sobre “o que é realmente importante”, assim como o pai de Tiana ensina à filha no início do filme. É sobre a jornada de mudança de duas pessoas, pois tanto Tiana quanto Naveen aos poucos mudam durante seu tempo em forma de sapo. Apesar de vários pontos negativos, é um filme lindo e que funciona como uma gostosa comédia romântica em forma de desenho animado. Aos poucos passamos a torcer pelo casal para que no final eles fiquem juntos, não importa de como humanos ou como sapos. E enquanto acompanhamos eles, somos obrigados a aprender com seus erros, teimosias e mau costumes e rever nossas próprias vidas para buscar “o que é realmente importante” também para nós. Pena que faltou um pouco mais de grandiosidade nessa história. Mas, assim como no filme, não podemos ter tudo na vida…

"Tem magia boa e má
Felicidade e tristeza dá
Consiga o que quer depois perca tudo lá
Em Nova Orleans

Ei, amigo, pode entrar
Não perca tempo em outro lugar
Se quiser o bom da vida aproveitar
Venha pra Nova Orleans

Tem mansões imensas
Dos Barões do açúcar e do algodão
Ricos e pobres seus sonhos vãoRealizar em Nova Orleans"

Crítica publicada no dia 16 de maio de 2011 no site Disney Mania.

sábado, 14 de maio de 2011

Clássicos na Crítica: Pocahontas



"Se acha que eu sou selvagem,
Você viajou bastante…
Talvez tenha razão…

Mas não consigo ver
Mais selvagem quem vai ser…
Precisa escutar com o coração…
Coração…

Se pensa que esta terra lhe pertence,
Você tem muito ainda o que aprender,
Pois cada planta, pedra ou criatura
Está viva e tem alma: é um ser

Se vê que só gente é seu semelhante
E que os outros não têm o seu valor,
Mas se seguir pegadas de um estranho,
Mil surpresas vai achar ao seu redor…"

Wingapo! É com a mesma saudação indígena que Pocahontas diz “Olá” para seu pai que eu começo o Clássicos na Crítica de hoje. Como semana passada foi comemorado o dia do índio, nada melhor que prestar nossa singela homenagem a eles falando de um filme, é claro, sobre eles. Por isso hoje falarei de Pocahontas, clássico que foi lançado em 1995 e conquistou todo o mundo. Com uma trilha sonora magnífica, imagens e animação de cair o queixo, e uma das histórias de amor mais lindas e inusitada que a Disney já fez, Pocahontas tem hoje, um lugar garantido entre os meus clássicos favoritos do estúdio.

Tenho que confessar que só fui assistir Pocahontas depois que comprei o DVD do filme lançado em 2009. Se tinha assistido quando criança, eu não lembrava de mais nada, apenas conhecia as músicas. Fiquei empolgadíssimo com o filme, sua história, animação e música. Foi quase um mês só assistindo ele em um loop infinito nas horas vagas! E como todo clássico Disney que vi depois de “velho”, pude perceber muito mais do que está escancarado na história. Fui buscar nas entrelinhas as mensagens, lições, referências e detalhes que tomam conta dessa grande história de amor.

O filme retrata o lendário romance proibido da índia norte-americana Pocahontas com o capitão inglês, John Smith. A história começa quando um navio parte da Inglaterra com o objetivo de encontrar um “Novo Mundo” e consequentemente explorá-lo em busca de ouro. Bancando e comandando toda a expedição está o ganancioso governador Ratcliffe, que tem uma louca obsessão em encontrar ouro e riquezas minerais nas novas terras da américa. Junto com a tripulação, chega à costa norte-americana o capitão John Smith que, enquanto explora as novas terras, encontra a índia Pocahontas. É aí que os dois se apaixonam, descobrem muito sobre a cultura um do outro e acabam no meio de uma guerra entre o povo indígena de Pocahontas, que procura proteger seu próprio lar, e os colonos ingleses, que apenas pensam em explorar e procurar riquezas.

Agora um pouco de aula de história, que não faz mal a ninguém. Pra quem não sabe (eu não sabia), Pocahontas realmente existiu. Ela nasceu em 1595 e viveu parte da sua vida onde hoje fica o estado da Virgínia nos Estados Unidos. Filha do líder da maioria das tribos da região, sua vida deu margem a muitas lendas, inclusive a retratada no filme da Disney. Segundo relatos de historiadores, Pocahontas salvou sim a vida do herói britânico John Smith que seria executado pelo seu pai em 1607, porém eles jamais se apaixonaram. Na verdade John Smith era um homem de meia idade quando chegou à américa e Pocahontas era apenas uma garotinha de 10 ou 11 anos que convenceu o pai a poupá-lo pois sua morte atrairia o ódio dos colonos. Pocahontas ficou conhecida pelos euro-americanos como a “boa índia” por ter salvo a vida de um homem branco e John Smith apenas foi seu tutor nos costumes e na língua inglesa. Em 1609, John Smith sofreu um acidente com pólvora e foi obrigado a voltar para a Inglaterra. Os colonos, no entanto, disseram a Pocahontas que ele tinha morrido.

Em 1612, com apenas 17 anos, a índia foi aprisionada pelos ingleses durante uma visita social e ficou na prisão de Jamestown por um ano. Durante esse tempo, Pocahontas chamou a atenção do comerciante de tabaco inglês John Rolfe que ofereceu libertá-la se ela se casasse com ele. A proposta foi aceita e Pocahontas viveu mais um ano aprisionada, porém tratada como membro da corte, onde teve seu inglês aprimorado e aprendeu sobre o cristianismo através do ministro inglês Alexander Whitaker, que quando providenciou o seu batismo cristão, viu Pocahontas escolher o nome Rebecca para si mesma. Logo depois, a índia teve seu primeiro filho, que recebeu o nome de Thomas Rolfe. Os filhos de Pocahontas e John Rolfe ficaram conhecidos como “Red Rolfes”. Em 1616 Pocahontas descobriu que John Smith ainda estava vivo, mas os dois só se reencontraram em 1617, quando Pocahontas demonstrou desapontamento por John Smith não ter ajudado a manter a paz entre os colonos e sua tribo. Alguns meses depois, Pocahontas e John Rolfe decidiram retornar à Virgínia, o lar de Pocahontas, mas uma doença (desconfia-se que tenha sido a varíola) obrigou o navio a voltar para a Inglaterra. Porém ao chegar na costa, Pocahontas falece.

Depois de sua morte, vários romances foram escritos sobre ela e a maioria retratava Pocahontas e John Smith como amantes e John Rolfe como o “vilão” que separou os dois e casou com a índia à força. Até hoje as pessoas tentam procurar em suas próprias árvores geneológicas se existe algum traço de descendência de Pocahontas em suas famílias. Até George W. Bush já entrou na lista, mas foi comprovado que ele é descendente apenas de John Rolfe a partir de um casamento consumado após a morte de Pocahontas. Porém Nancy Reagan, viúva de Ronald Regan é umas das pessoas confirmadas como descendentes de Pocahontas.

Enfim, depois dessa aulinha, vamos voltar ao filme, que é o que interessa. Na época do lançamento, a comunidade descendente e representante da tribo de Pocahontas não aceitou de forma positiva o longa. Segundo eles, a Disney não retratou de forma fiel a cultura da tribo, contou uma versão distorcida da história original e não aceitou a oferta deles para ajudar em questões culturais e históricas que fossem tratadas no filme. Sinceramente, não acho que eles deviam ter rejeitado de tal forma o longa, afinal a história é baseada na maioria dos romances e lendas contadas por boca a boca sobre Pocahontas. Pelo contrário, deviam ter ficado orgulhosos pela Pocahontas linda, jovem e de espírito livre que a Disney construiu. É claro que para um filme infantil eles não iriam fazer uma história sobre uma menininha que salva um colono explorador, é presa, obrigada a se casar na Inglaterra e depois morre de varíola né?

Apesar de tudo isso, Pocahontas tem uma história bastante adulta. Depois do sucesso estrondoso do romance retratado em A Bela e a Fera, que conquistou não só o público infantil, mas também grande parte dos adultos e ainda garantiu o status de primera animação a concorrer ao Oscar de Melhor Filme, os produtores não esconderam sua vontade de repetir o feito e garantir a disputada estatueta. Foi assim que um processo de corte e modificação começou. Inicialmente, o filme que teria animais falantes, como na maioria dos clássicos Disney, perdeu essa característica e deixou apenas animais tradicionais na trama. Consequentemente, até mesmo um personagem (um peru que seria amigo de Pocahontas) foi cortado da história.

Mas nem por isso a história perdeu sua graça. O humor está presente de forma discreta e em doses homeopáticas representados exatamente pelos animais. Percy, o cachorro do governador Ratcliffe, é o bobão da história que tem ótimas cenas dignas de um trapalhão enquanto aos poucos perde a pose de cachorro mimado enquanto conhece e explora a floresta. Vovó Willow, um espírito em forma de árvore, é a grande conselheira de Pocahontas e tem ótimas e engraçadas cenas também. Flit, o beija-flor amigo de Pocahontas, é o esquentadinho da história e representa o lado “certinho” e responsável da consciência da protagonista. Como o oposto de Flit, está Meeko, guaxinim altamente brincalhão e impulsivo que representa toda a liberdade, ousadia e vontade de experimentar o novo que existe dentro de Pocahontas. Meeko é, na minha opinião, o bichinho de estimação/personagem secundário mais engraçado e fofo que existe nos clássicos Disney. Ele só não empata com Stitch de Lilo e Stitch porque Stitch é um protagonista…

A parte musical do filme é algo a se destacar. Com músicas compostas pelo genial Alan Menken, somos apresentados a letras um tanto quanto profundas e de uma beleza incrível. Sou obrigado a destacar a genialidade desse filme seguindo suas músicas e suas cenas. Começando com a abertura ao som de “A Companhia Virginia”. E que abertura! Somos logo apresentados a uma cena de ação em alto mar, no meio de uma tempestade. E logo em seguida, quando a câmera vai além do barco, atravessa a neblina e nos mostra o “novo mundo”, o título do filme e os créditos iniciais ao som de “Ao Compasso do Tambor”, somos aos poucos apresentados à cultura e à rotina do povo indígena da aldeia de Pocahontas. Vemos a colheita, a chegada dos guerreiros de volta da guerra, as crianças brincando com seus brinquedos artesanais, o curandeiro e sábio da tribo e é claro, logo depois, quando o vento nos leva junto com a câmera, somos apresentados a Pocahontas, no alto de uma cachoeira, simplesmente sentindo o vento e a natureza ao seu redor. É simplesmente lindo.

Pocahontas é algo a se destacar. Ela tem uma beleza e sensualidade que reflete a decisão dos produtores de fazer um filme mais adulto. Com traços fortes, o que mais me chama atenção nela é seu cabelo. Como ele praticamente tem vida própria toda vez que o vento bate e o faz balançar e ondular. Sua personalidade segue o padrão de liberdade e espírito livre tão comum nas princesas e heroínas dos clássicos Disney da década de 90. Afinal, ela, assim como Mulan por exemplo, é responsável pelo fim de uma guerra!

A crença indígena é retratada de forma discreta no filme, mas é responsável por grande parte das entrelinhas da história. Minha cena favorita é, sem dúvida, quando Pocahontas e John Smith se encontram pela primeira vez. Primeiramente eles não se entendem por falarem idiomas diferentes, porém, ao ouvir a Vovó Willow cantar “Ouça O Seu Coração”, o vento passa e gira ao redor deles. É como se os espíritos antigos conspirassem a favor do casal e então eles passam a falar a mesma língua. É uma cena de arrepiar. Depois que os dois se conhecem, começa um processo de aprendizado pelos dois lados, que nos leva à “As Cores do Vento”, sem dúvida a música mais famosa do filme e que é uma aula de consciência ambiental não só para John Smith, mas também para o espectador. Sem falar que a construção da cena, com elementos surreais e artísticos é belíssima. Essa cena é também o ápice da fotografia usada no filme, que abusa de cores fortes e vibrantes em tudo que se refere à natureza.

Pocahontas fala muito também sobre a exploração colonial da Europa em relação às américas na época das Grandes Navegações. Todo mundo que estudou um pouco de história pelo menos na época de escola sabe que toda a América foi explorada pelos colonos portugueses, ingleses, espanhóis, entre outros. E não é diferente em Pocahontas, quando “nuvens estranhas” chegam trazendo homens vestidos e brutos, que só pensam em explorar, maltratar e destruir a terra. O desrespeito com o lar e a cultura indígena é gritante, começando pelo termo “Selvagem” usado sempre que o povo de Pocahontas é mencionado. Em um diálogo genial entre o casal protagonista, John chama Pocahontas e seu povo de selvagens. Ofendida, Pocahontas pergunta por que ele usa aquela palavra. Sem jeito, Smith diz que selvagem é apenas um termo para quem não é civilizado e logo depois é interrompido por Pocahontas que diz: “Você quer dizer, diferente de você…”. Em Pocahontas, ouvir não é uma possibilidade. Durante todo o conflito entre os colonos e os nativos, vemos ignorância em ambos os lados, onde discutir interesses é uma opção rapidamente descartada, levando todos à um conflito e uma guerra eminente.

Grande parte dos homens que chegam à terra de Pocahontas na verdade nem ao menos tem idéia da injustiça que cometem pois são manipulados pelo vilão Ratcliffe a achar que os nativos escondem todo o ouro da região para benefício próprio. Há inocência nos dois lados da história. Ao ser questionada se havia ouro, algo amarelo, brilhante, de grande valor e muito cobiçado, na terra em que vive, Pocahontas fica animada e diz que há muito ouro sim ali. Então ela pega uma espiga de milho abre e mostra o “ouro” deles. No lado dos colonos, vemos a inocência no papel de Thomas que, ainda jovem, está em processo de formação e tem suas atitudes justificadas pela influência do meio em que vive e não pelo seu caráter. Afinal, é ele que toma a frente da expedição depois que Ratcliffe é desmascarado.

Por falar em Ratcliffe, só eu acho ele um dos vilões mais chatos e sem graça da Disney? Ele praticamente só faz manipular os outros pra conseguir o que quer, enquanto fica sentado em sua tenda conspirando pra encontrar ouro, comendo e aproveitando do luxo que pode ter. Sinto muito mas, pra mim, vilão que se preze é aquele que põe a mão na massa e prova sua maldade pelas próprias atitudes e não fica só mandando nos outros. A única parte que vejo um sinal de real maldade nele é quando ele canta “Bárbaros”, logo antes do conflito que caracteriza o clímax do longa. A letra é extremamente preconceituosa e baixa, mencionando os índios como (parafraseando a letra) “pagãos nojentos de horrível cor” que são “bons quando falecem” e chega ao ponto de dizer que eles “não são nem humanos”!

Voltando à parte musical do filme, Pocahontas possui muitas músicas. Algumas mais curtas, apenas pra dar um tom à trama, outras em tamanhos tradicionais que realmente servem como números musicais. Apesar do grande acervo, uma linda música romântica ficou fora da trama. “Se Eu Não Te Encontrasse” deveria ser cantada por Pocahontas e John Smith perto do clímax do filme, quando Pocahontas visita John depois que ele é capturado pelos nativos. Por questões óbvias de narrativa, a música foi cortada, mas ela está presente durante grande parte do filme na trilha orquestrada. Sua melodia é facilmente identificada várias vezes na história. Ela também foi gravada na versão brasileira por Daniela Mercury (que também gravou “As Cores do Vento”) e John Secada e é tocada nos créditos finais do longa.

Apesar de um ótimo filme, acho o clímax da história muito fraco. Não que não tenha seu valor. O clímax é muito mais moral do que físico. Há todo um discurso sobre sabedoria e superação das diferenças e a questão é resolvida quando os colonos, aos ver John Smith ser poupado pelos nativos, se voltam contra o ainda interesseiro Ratcliffe. Mas não há uma guerra, ou uma batalha ou algo empolgante de tirar o fôlego como por exemplo o final de Mulan, o embate de Ariel contra Úrsula ou até mesmo o confronto de Simba contra Scar. Na verdade, considero a cena anterior ao clímax o verdadeiro ápice do longa, quando Pocahontas, aconselhada pela Vovó Willow, finalmente percebe que seus sonhos mostravam uma bússola e que essa bússola aponta para John Smith. Com a benção de Vovó Willow e dos espíritos antigos, Pocahontas então parte rumo ao local onde John Smith seria morto para salvá-lo e acabar com a guerra entre os dois povos. Essa cena é belíssima, pois tudo isso é retratado em um número musical. Enquanto os colonos e os índios cantam a segunda parte da música “Bárbaros” e caminham para a guerra, Pocahontas canta e pede ajuda aos ancestrais para ajudá-la enquanto ela também corre em direção ao conflito eminente. É de arrepiar.

Acho que a grande surpresa do filme com certeza é o seu final. Depois de ser baleado por Ratcliff, John Smith é obrigado a voltar à Inglaterra às pressas para se salvar. Em dúvida quanto a ficar com seu povo ou seguir ao lado do seu amado, Pocahontas surpreende a todos decidindo ficar e dando à John Smith apenas a promessa de que, não importa onde estivessem, eles sempre estariam juntos. É um final tão “não Disney” que quando vi o filme pela primeira vez depois que comprei o DVD eu fiquei surpreso com ele. Cadê o “felizes para sempre”? Cadê a magia de um final Disney? Mas depois, analisando o rumo mais adulto da história, percebi que o final é perfeitamente condizente com a personalidade da Pocahontas retratada no filme. Aquela é a sua terra, é seu povo, ela tem responsabilidades ali. Tudo que ela ama jamais poderia ser deixado para trás dessa forma. Afinal, Pocahontas é um espírito livre e jamais poderia ser “domada” indo para longe da sua terra viver em um lugar desconhecido. Claro que ela faz isso na continuação do filme que não tive interesse de assistir até hoje, então vamos focar apenas no filme original. Logo depois de se despedir de John Smith, vemos então um dos finais mais lindos e épicos do estúdio. Ao ver o navio colono partir, Pocahontas corre por toda a floresta, acompanhando seu movimento, enquanto a música de Alan Menken vai atingindo tons cada vez mais altos, até que ela chega à ponta da pedra onde primeiro vimos ela, no início do filme. O vento que representa os espíritos ancestrais durante toda a trama passa então por ela e segue para o mar, atrás do barco, onde passa por John Smith que suspira e sorri e logo depois empurra as velas do navio, aumentando sua velocidade naturalmente. É aí que Pocahontas faz um gesto de adeus e John Smith faz o mesmo. A imagem se torna uma pintura histórica e a melodia de “As Cores do Vento” chega ao seu maior tom logo antes de a tela escurecer. É de chorar uma cena tão linda e poética como essa.

Pocahontas é um filme sobre a natureza, sobre liberdade, sobre a luta contra o preconceito e contra a ignorância. Fala sobre desigualdade e o principal problema das grandes guerras que vemos hoje em dia em todo o mundo: a falta de diálogo. Ela é um exemplo real, já que realmente existiu, de que nada supera a boa e velha conversa quando se trata de interesses conflitantes, guerras e exploração. A história tá aí pra provar que nada de bom se consegue com violência e ignorância. Vamos aprender com Pocahontas. Vamos com as cores do vento colorir. Do mesmo jeito que comecei esse texto com uma saudação indígena, eu me despeço também de vocês com a esperança de que, assim como Pocahontas fez com John Smith, eu tenha aumentado sua vontade de assistir esse lindo filme e aprender com ele. Ana!

"Não vai mais o lobo uivar para a Lua azul
Já não importa mais a nossa cor
Vamos cantar com as belas vozes da montanha
E com as cores do vento colorir…

Você só vai conseguir
Desta terra usufruir,
Se com as cores do vento colorir…"

Crítica publicada no dia 27 de abril de 2011 no site Disney Mania.

Clássicos na Crítica: Aladdin



"Venho de um lugar
Onde sempre se vê
Uma caravana passar
Vão cortar sua orelha
Pra mostrar pra você
Como é bárbaro o nosso lar

Sopram ventos do Leste
O Sol vem do Oeste
Seu camelo quer descansar
Pode vir e pular
No tapete voar
Noite árabe vai chegar

A noite da Arábia
E o dia também
É sempre tão quente
Que faz com que a gente se sinta tão bem

Tem um belo luar
E orgias de mais
Quem se distrair pode ate cair
Ficar para trás"

Eu tive que colocar a letra completa de “A Noite da Arábia” pra introduzir essa crítica. Ela diz tudo sobre “Aladdin” e sobre o que o expectador virá a ver durante o filme. Os clássicos Disney, principalmente na década de 90, sempre procuraram explorar, em cada um dos seus filmes, uma cultura, país ou época diferente. Essa busca incessante por tramas e ambientes variados criou um leque de possibilidades e de universos à se explorar muito grande para o estúdio. Só na década de 90 passamos pela China antiga, a França camponesa do século XVIII, pela Grécia antiga, pela savana africana e muito mais. É claro que “Aladdin”, que chegou aos cinemas em 92, não seria diferente. Com uma trama que se passa nas arábias, em um reino fictício chamado Agrabah, acompanhamos uma das histórias mais mágicas e com mais “elementos místicos” da Disney. Além de toda a caracterização do reino, como detalhes de arquitetura, decoração e figurino típicos do oriente médio, elementos típicos das histórias das Mil e Uma Noites estão presentes na trama, como o tapete voador, a lâmpada mágica, o Gênio e a Caverna dos Tesouros.

O filme conta a história de Aladdin, um ladrão que acidentalmente se apaixona pela princesa Jasmine, filha do sultão do reino em que vive. Porém, enganado pelo conselheiro do reino, Jafar, uma espécie de feiticeiro árabe, Aladdin acaba na lendária Caverna dos Tesouros, à procura de uma misteriosa lâmpada mágica que abriga um gênio com o poder de realizar três desejos para quem o libertar. Porém Aladdin não sabe que Jafar quer o poder do gênio para si. Por trás dessa trama, somos apresentados a Jasmine, uma das mais belas princesas Disney e com uma personalidade fortíssima, que sofre por viver presa em seu palácio e ter que escolher um marido às pressas por ordem de seu pai. Ao terminar preso na caverna e em posse da lâmpada mágica, Aladdin recebe a chance de realizar três desejos. É aí que a trama fica interessante, já que o astuto ladrão, com a ajuda do Gênio, decide se passar por príncipe e conquistar a princesa Jasmine.

Sério, essa foi a melhor sinopse que consegui produzir sobre “Aladdin”. Afinal, é um filme com uma trama cheia de reviravoltas e muito corrida. Aliás, considero esse o único ponto fraco do longa. Não pela trama ser acelerada e um tanto quanto detalhada, mas sim pela edição. Pode ser impressão minha, mas em vários momentos do filme me pego irritado com cortes brutos e transições corridas. É diferente da edição primorosa vista em Mulan, O Rei Leão ou até mesmo A Bela e a Fera, que veio antes de “Aladdin”, por exemplo. Sinceramente, prefiro pensar que eles deram menos atenção à edição para focar na edição de som. Convenhamos, “Aladdin” é um show de sons. Desde cenas mais simples, como as do mercado da cidade, até as mais complexas e grandiosas como a fuga da Caverna dos Tesouros (que usa de forma belíssima a computação gráfica, tecnologia inovadora na época) ou mesmo o clímax, todas possuem sons detalhados de pratarias, animais, fogo, vento, areia e vozes. Não é a toa que o filme concorreu ao Oscar de Melhor Som e Melhores Efeitos Sonoros!

Ainda falando de sons, impossível não falar bem da trilha sonora do filme, não é? As músicas, escritas pelo já famoso compositor da Disney, Alan Menken são, em sua maioria, marcantes e gostosas de se ouvir. Das seis canções que aparecem no filme, 3 foram escritas por Howard Ashman, que infelizmente faleceu durante a produção do filme e teve seu trabalho concluído por Tim Rice, que compôs o restante das músicas do filme ao lado de Menken. Entre as músicas do filme destaco a já citada no início dessa crítica, “Noites da Arábia”, que serve como introdução para a história do filme e a linda “Um mundo Ideal”, tema romântico de Aladdin e Jasmine, em uma das cenas mais românticas e apaixonantes da Disney. Só acho “Correr Pra Viver”, cantada por Aladdin em sua primeira cena, uma música fraquíssima e com uma musicalidade nada forte.

Porém cito a canção “Amigo Insuperável”, cantada pelo Gênio, como a melhor do longa. Além de divertidíssima, seu número musical é cheio de referências à cultura pop mundial da época do lançamento do filme. Claro que muita coisa só os adultos entendem, mas quem disse que a cena perde a graça por isso? As caras e bocas e imitações que o Gênio faz são impagáveis e nos fazem dar boas risadas a todo tempo. Para quem não sabe, o dublador do Gênio na versão original do filme é Robin Williams, que foi elogiadíssimo por sua interpretação vocal nesse filme exatamente por essas imitações de celebridades e pessoas famosas. O Gênio imita Arnold Schwarzenegger, Ed Sullivan, Robert De Niro e Jack Nicholsonm, entre outros. Claro que muito dessas sacadas à celebridades americanas foi perdida na versão dublada do filme, porém nem por isso a qualidade de dublagem se tornou inferior. O substituto de Robin Williams no Brasil, Márcio Simões, fez um trabalho excelente e conseguiu interpretar um Gênio tão engraçado quanto o do ator americano.

Por falar no Gênio, “Aladdin” está cheio de personagens engraçados. Desde Abu, macaquinho companheiro de Aladdin, até Iago, papagaio comparsa de Jafar em suas maldades. Todos eles roubam a cena em vários momentos engraçados e marcantes (o mau humor e as imitações de Iago faz dele um dos meus personagens favoritos). Acho esse um ponto positivo do filme: há uma quantidade muito grande de personagens na história, o que muitas vezes prejudica a trama de um filme pelo fato de não ser possível explorar todos os personagens de forma aceitável. Porém em “Aladdin” conhecemos e somos cativados por basicamente todos os personagens principais na trama. Até mesmo Rajah, tigre de estimação de Jasmine que pouco aparece na trama é apaixonante e o tapete mágico, que nem fala ou produz um som qualquer, consegue impor sua personalidade no filme.

“Aladdin” é um filme que tinha tudo para entrar em uma atmosfera um pouco mais “obscura” do que é, como aconteceu com O Corcunda de Notre Dame. Como a própria música de abertura diz, a arábia é bárbara e quem se distrair pode cair e ficar para trás. A violência e o “sangue quente” árabe são retratados no filme sim, mas de forma discreta. Decapitações são sempre comentadas e utilizadas na trama como opções de castigo para os ladrões do reino. A própria princesa Jasmine quase tem a mão decepada em uma cena do filme! Porém toda essa violência é tratada de forma leve, ou os pais das crianças da época jamais permitiriam que seus filhos assistissem algo violento. A preocupação com isso é tão grande que até “Noites da Arábia” foi modificada quando o filme chegou ao VHS, pois uma organização árabe protestou contra o trecho “vão cortar sua orelha pra mostrar pra você como é bárbaro nosso lar” da música. No final o trecho foi substituído por “é uma imensidão, o calor e a exaustão, como é bárbaro nosso lar” e até hoje é essa versão que ouvimos no DVD lançado pelo estúdio em 2004.

Por falar em violência, considero Jafar um dos melhores vilões da Disney. Seu jeito manipulador de ser (assim como sua dublagem e trejeitos) me lembram muito meu vilão favorito, Scar, de O Rei Leão. Só acho Scar muito superior a ele, mas deixemos Scar para outro dia… Acho que acertaram ao criarem não um vilão, mas um vilão e um ajudante. Iago completa a maldade de Jafar de forma brilhante e isso só faz dele um vilão ainda mais legal de se assistir. Mas não é Jafar o personagem mais interessante do filme. Aladdin é, na minha opinião o destaque e é onde está a mensagem do longa. Desde o início da busca de Jafar pela lâmpada mágica sabemos que só um “diamante bruto” poderia entrar na Caverna dos Tesouros e pegar a lâmpada. E é óbvio para todo mundo que o tal “diamante bruto” é Aladdin.

Aladdin é um personagem inocente e de uma personalidade bondosa até em excesso. Ele deixa de comer e passa fome para poder ceder seu meio pedaço de pão para um casal de crianças de rua. Sem falar que assim que descobre o sonho paradoxal do Gênio, Aladdin promete realizar tal sonho como seu terceiro desejo. Me diga: Se você tivesse três desejos, você realmente desistiria de um para poder ajudar o Gênio da lâmpada a se libertar? Eu tenho minhas dúvidas. Não é a toa que Aladdin é facilmente enganado e manipulado por Jafar durante parte do filme. Apesar disso, seu lado “ladrão de ser” se sobrepõe à sua personalidade ingênua e inocente. Aladdin possui uma lábia e um, digamos, “jogo de cintura” típico de ladrões e moradores de rua, que o ajuda a sair rápido de situações difíceis e ainda tirar proveito delas! O filme todo não passa de um uma sucessão de situações difíceis, dribladas de forma esperta por Aladdin. É assim na fuga dos guardas do reino, na saída da caverna usando os poderes do Gênio, ao voltar ao reino fingindo ser um príncipe e até no final, quando derrota Jafar. É a lábia de garoto de rua que o livra dessas dificuldades. No final, “Aladdin” se trata de um filme sobre um ladrão inocente e seus planos para se tornar alguém e deixar de ser apenas um “lalau” da rua. É sobre o processo de lapidação de um diamante bruto. Nós bem que poderíamos aprender com Aladdin a procurar o melhor de nós mesmos e lapidarmos o nosso próprio diamante bruto não? Afinal, existe todo um mundo lá fora. Cabe a nós decidir se vamos vê-lo como uma arábia brutal e bárbara ou como um mundo ideal cheio de encanto e beleza onde é possível apreciar de um tapete a voar…


"Olha eu vou lhe mostrar
Como é belo este mundo
Já que nunca deixaram o seu coração mandar

Eu lhe ensino a ver todo encanto e beleza
Que há na natureza num tapete a voar!

Um mundo ideal
Um privilégio ver daqui
Ninguém pra nos dizer o que fazer
Até parece um sonho

Um mundo ideal
Um mundo que eu nunca vi
E agora eu posso ver e lhe dizer
Estou num mundo novo com você"


Crítica publicada no dia 10 de abril de 2011 no site Disney Mania.

sexta-feira, 13 de maio de 2011

Clássicos na Crítica: Mulan 木蘭


"Seremos rápidos como um rio
Com a força igual a de um tufão
Na alma há sempre uma chama acesa
Que a luz do luar nos traga a inspiração”



A identidade das princesas e heróinas da Disney sempre esteve em constante mudança. Princesas como a inocente Branca de Neve, ou a ingênua Bela Adormecida eram os exemplos perfeitos do estúdio no início das suas produções: mulheres doces e meigas que viviam à espera de um príncipe encantado para salvá-las das maldades que às rodeavam. Aos poucos esse perfil foi mudando: Ariel queria conhecer além do mar em que vivia e se tornar humana, Bella queria mudar o homem frio e bruto que a aprisionava, Jasmine desafiava o pai para ser livre e lutar pelo seu povo. Personagens e personalidades diferentes, porém compartilhando o espírito de coragem, independência e ousadia que antigamente não era comum entre as mulheres. As princesas e heróinas citadas foram as “antepassadas” de Mulan dentro da Disney e por isso talvez Mulan tenha sido uma protagonista tão marcante, memorável e apaixonante. Ela representa a mulher moderna em uma época onde os casamentos eram arranjados e a única função da mulher era ter filhos e cuidar do seu marido. Ela representa a dúvida e o receio que todos nós temos dentro de nós em vários momentos de nossas vidas.

A história de Fa Mulan se passa na China de 450 d.C., quando a construção da Grande Muralha desperta a fúria dos Hunos que, comandados por general Shan-Yu, invadem a China. O Imperador então ordena que um homem de cada família se apresente ao império para lutar na guerra e defender seu país. Envergonhada por ter sido rejeitada pela casamenteira e desonrado sua família, Mulan vê seu pai, já velho e debilitado, ser convocado para a guerra. Num estopor de coragem e audácia, Mulan corta os próprios cabelos e se transfigura em homem, fugindo de casa em direção à batalha no lugar do seu pai. Lá, a garota encontra o campo de concentração do Capitão Lee Shang (dublado por Jackie Chan na versão chinesa do filme), onde precisa treinar ao lado de um exército despreparado, fazendo tarefas típicas de homens e ainda tentando esconder seu disfarce. Enquanto isso, os Hunos vão adentrando sorrateiramente a China.

A história do filme é beseada em uma lenda chinesa chamada “O Poema de Mulan” (em inglês Ballad of Mulan e em chinês: 木蘭辭) no qual Mulan se tornou uma grande heroína de guerra depois de lutar por 12 anos. Adaptações foram feitas, é óbvio, porém a história serviu a um dos propósitos principais de todos os clássicos Disney: passar uma mensagem. Mulan, assim como muitos personagens Disney, tem sua personalidade e seu verdadeiro “eu” reprimidos pelos dogmas da sociedade. No caso de Mulan, o fato de ser extrovertida demais e um tanto quanto descuidada faz com que a moça não consiga um marido decente para honrar sua família. Enquanto as outras garotas sabem todos os deveres da boa esposa, Mulan escreve uma cola no braço às pressas, enquanto engenhosamente dá comida às galinhas e brinca com seu cachorro. A vergonha então cai sobre sua família. Esse é o ponto de partida para a decisão de Mulan em tomar o lugar do pai na guerra para salvá-lo, fugindo de casa.

Preocupados com Mulan, os ancestrais da família Fa acordam o dragão Mushu, que tem a única tarefa sem graça de acordar a estátua do Guardião da Família, porém ele acaba quebrando-a e, desesperado, vai atrás de Mulan na esperança de trazê-la a salvo para casa e se tornar o novo guardião. Mushu representa o lado mágico e fantasioso dos contos de fadas típicos da Disney e, apesar de não ter super poderes, tenta ajudar Mulan de todas as formas possíveis a passar despercebida como homem já que, se for descoberta, será condenada à morte. Porém Mushu é mais do que uma ajuda para Mulan. Ele é o alívio cômico principal do filme. Em sua versão original, a dublagem do dragãozinho é feita por Eddie Murphy e muito do seu “estilo” está presente na caracterização de Mushu. Até a dublagem brasileira é do mesmo dublador que dá voz ao Murphy nos seus filmes (Mário Jorge). São deles as melhores piadas, sacadas, metáforas e frases de duplo sentido do longa. Porém Mushu tem mais importância na história do que parece. Tentando salvar Mulan, Mushu entra na mesma jornada de auto conhecimento e descoberta que a garota. Assim como a protagonista, ele é desprezado e rebaixado pelos ancestrais dos Fa, e viajar com ela se torna uma atitude tão desesperada quanto a fuga de Mulan para salvar o pai e se descobrir. Eu diria que acompanhamos uma jornada dupla de aprendizado, compartilhada por Mulan e Mushu.

Pra variar, “Mulan” está cheio de canções apaixonantes. Com músicas de Mathew Wilder (música) e David Zippel (letra) e uma trilha sonora belíssima de Jerry Goldsmith, somos transportados à história de Mulan de forma prazerosa, com letras encantadoras que às vezes demonstram humor, outras vezes superação ou até mesmo tristeza. Na trilha sonora instrumental destaco a faixa “Mulan Decision” que é tocada no filme na cena em que Mulan se transforma em homem e foge de casa. A versão do filme não é a mesma versão presente no CD da trilha sonora brasileiro, pois utiliza um sintetizador na mesma, porém é possível encontrar a faixa original na edição limitada da trilha sonora, lançada apenas nos Estados Unidos. Quanto às músicas, destaco minhas favoritas: “Honra a todas nós” que nos apresenta de forma engraçada a cultura chinesa de levar as jovens moças de cada família para a Casamenteira em busca de um casamento próspero, “Não vou desistir de nenhum” que mostra a luta do Capitão Lee Shang para treinar seu exército em uma cena de superação de arrepiar e, é claro, a lindíssima “Imagem” que mostra Mulan num momento de profunda tristeza e dúvida se questionando sobre si mesma. Pra quem não sabe, Imagem foi imortalizada na forma de single de lançamento da cantora Christina Aguilera. No caso da versão original, o título da música é “Reflection” e foi a responsável por lançar Christina Aguilera no mercado da música pop. No Brasil, a faixa teve uma versão em português cantada pela, ainda adolescente, Sandy, da dupla Sandy e Junior. Sandy e Junior também gravaram juntos a faixa “Seu coração” (“True to your heart”) que toca nos créditos do longa. Vale ressaltar que a versão de Sandy e de Aguilera não são as mesmas versões que tocam no filme. A música é a mesma, mas a versão do filme é menor e com leves mudanças na letra para se adaptar à trama. No Brasil, quem interpreta “Imagem” no filme é a dubladora Kacau Gomes.

Durante os 5 anos de produção, “Mulan” contou com mais de 700 profissionais, incluindo desenhistas, designers, técnicos e artistas. Todo esse trabalho é visível pela qualidade do filme. A animação é de primeira linha, com traços que lembram a arte chinesa e com tons mais pastéis e desbotados, muito comuns na China, com exceção das cenas de batalhas que possuem tons mais fortes e escuros, para passar a sensação de tristeza e perigo. Apesar de ter feito o máximo para se manter fiel à lenda de Mulan e na representação da cultura chinesa, “Mulan” não foi muito bem aceito por muitos chineses. Eu não entendo bem o por que. O filme retrata de forma tão bela a China, com paisagens lindas (só a abertura já é uma belíssima cena na Muralha da China), trilha sonora delicada, e história emocionante. Não entendo por que não gostar do filme. Às vezes eles não gostaram da Mulan em si, ousada e rebelde, indo contra os valores da cultura chinesa, ou então não gostaram das mudanças com relação à alguma parte do “Poema de Mulan”… Vai saber…

Considero “Mulan” umas da produções mais poderosas da Disney, chegando perto de grandes nomes como O Rei Leão, A Bela e a Fera e A Pequena Sereia. Sua história é densa e, em certos pontos, triste (a cena onde o exército de Lee encontra uma aldeia atacada pelo hunos é de cortar o coração), mas sem perder o humor nunca, criando uma narrativa que varia entre os gêneros da comédia e do drama sem desprender a atenção do espectador. A magnitude e beleza do filme podem ser retratados em cenas grandiosas como a cena da redenção de Mulan no fim do filme ou a batalha contra os hunos na montanha coberta de neve. Só me lembro de ter visto uma cena de ação tão épica e tensa como essa em O Rei Leão, na cena da debandada da manada e a morte de Mufasa.

Apesar de retratar o preconceito contra a mulher em boa parte do filme, considero a mensagem principal de “Mulan” a mesma mensagem presente em tantos outros longas da Disney: que é mais importante o que está dentro de nós do que fora. Isso é comprovado no clímax do filme quando Mulan, já com seu disfarce descoberto, tentar avisar à Lee sobre uma possível invasão e é ignorada. São seus amigos do exército que ignoram o fato dela ser mulher e se mantém fiéis à sua amizade, ajudando a garota a tramar um jeito de salvar o imperador dos Hunos numa cena de ação muito bem construída e que leva a um dos momentos de redenção mais épicos e arrepiantes dos estúdios Disney, quando o Imperador e toda a China se curvam diante de Mulan como agradecimento aos serviços prestados ao império enquano soldado. É uma cena onde o preconceito é vencido e Mulan finalmente se vê de certa forma elogiada por algo certo que tenha feito. Essa cena só é superada pela cena seguinte, quando Mulan, já em casa, oferece a espada do derrotado general huno, o selo imperial e a honra para a família Fa em nome do Imperador, para seu pai que, por um momento fica surpreso mas deixa de lado a honra e seus costumes para abraçar seu bem mais precioso e fonte de todo seu orgulho: Mulan. Não tem como não se emocionar com uma história como essa. Uma história sobre preconceito, sobre superação, auto conhecimento e acima de tudo sobre lutar por quem se ama. Nossas dúvidas, medos, incertezas e desejos são retratados em Mulan e em sua história. Nós, homens, mulheres, crianças, somos todos como ela. Estamos em uma jornada eterna em busca de nós mesmos, de descobrir quem somos e provar que valhemos à pena. Nós somos Mulan e todos nós esperamos descobrir quem nós somos ao olhar para nossa própria imagem no espelho.

"Quem é que está aqui,
Junto a mim, em meu ser?
É a minha imagem
Eu não sei dizer

Como vou desvendar
Quem sou eu
Vou tentar
Quando a imagem
De quem sou
Vai se revelar”


Crítica publicada no dia 30 de março de 2011 no site Disney Mania.

Clássicos na Crítica: O Corcunda de Notre Dame


“Mais triste eu estou, a luz pra mim faltou, e essa falta me faz mal.
Um rosto horrível como o meu, não tem a luz celestial…”

Lembro que quando era pequeno, “O Corcunda de Notre Dame” era um dos meus filmes favoritos. Tinha o VHS e assistia várias vezes seguidas. Sei todas as falas até hoje… Por isso acho que tenho um carinho especial por esse filme. Pra quem não conhece a história, “O Corcunda de Notre Dame” se passa no século XV e conta a história de Quasímodo, um jovem corcunda que, ainda bebê, teve a mãe assassinada e, em um ato extremo de piedade, foi “acolhido” pelo juiz eclesiástico Frollo. Vinte anos depois, Quasímodo, que se tornou sineiro da famosa catedral de Notre Dame, decide finalmente sair do companário onde viveu toda sua vida para enfrentar as ruas e conhecer de perto o “Festival dos Tolos”, a maior festa de rua de Paris. Ao se tornar o centro das atenções de toda a multidão por causa da sua deformação física, Quasímodo é salvo pela cigana Esmeralda. Humilhado, o corcunda volta à catedral onde decide jamais sair novamente. Mas o estrago já havia sido feito. Envolvido pela fúria e pelo desejo, Frollo começa uma busca implacável por Esmeralda, ameaçando até mesmo a própria Paris. Resta a Quasímodo detê-lo com a ajuda do capitão da guarda Febo.

Bom, depois dessa sinopse digna de verso de DVD Disney, acho que dá pra ter uma idéia da história, não? O filme, dirigido pelos mesmos diretores de A Bela e a Fera, Gary Trousdale e Kirk Wise, foi lançado em 1996 e fez um grande sucesso no mundo todo. Por ser um filme infantil, os diretores fizeram várias modificações na trama original de Victor Hugo, como por exemplo deixar Quasímodo e Esmeralda vivos no final, além de transformar Frollo em juiz, quando no livro o vilão é um Arcebispo. Apesar de fugir da crítica direta à igreja e de temas pesados para um longa voltado para as crianças, o longa trata de assuntos incomuns no mundo Disney como o conceito do inferno, luxúria, religião, discriminação, corrupção, infanticídio e tortura. Conceitos estes presentes de forma quase explícita por exemplo na dança sensual de Esmeralda no Festival dos Tolos e na canção “Fogo do Inferno”, cantada por Frollo e que expressa de forma bem forte sua obsessão sexual por Esmeralda e seu lado vingativo ao desejar que a mesma vá para o inferno caso o rejeite.

Mas é claro que nem tudo no filme é drama, tristeza e temas polêmicos. Afinal, estamos falando de um filme Disney! Como todo musical que se preze, as canções são belíssimas e altamente apaixonantes. Compostas por Alan Menken e Stephen Schwartz (Pocahontas e Encantada), elas expressam de forma poética os sentimentos e emoções dos personagens, acrescentando em sua maioria toques religiosos na letra, como em “Salve os Proscritos” e “Lá fora”. Sem falar é claro que conseguem ser muito animadas e engraçadas, como “Às Avessas” e “O Seu Glamour”. Destaque também para a trilha sonora orquestrada composta pelo Alan Menken. Ela varia de momentos de tristeza, comédia e drama para tons altamente épicos nas cenas mais dramáticas (até hoje me arrepio quando Quasímodo aparece na fachada de Notre Dame e clama santuário com Esmeralda levantada em seus braços). Parabenizo também a dublagem do filme. Não sei por que, mas não se fazem mais dublagens nos filmes Disney como as daquela época. É simplesmente impecável!

Destaque também para todo o design do longa. Para a construção de Notre Dame em forma de desenho, os animadores tiveram que fazer inúmeras visitas à catedral durante a produção do filme para enfim reproduzir fielmente a estrutura do prédio. Não é a toa que cada gárgula, estátua, imagem e estrutura presentes no filme realmente possuem o estilo gótico presente na catedral. Estilo esse que ajuda a passar ao espectador a atmosfera de tensão, suspense e misticismo que rodeia a catedral durante algumas cenas do filme. Na verdade, muita coisa da catedral foi utilizada para acrescentar algo interessante na trama, fazendo de Quasímodo um Tarzan de Notre Dame, já que ele várias vezes escala de forma acrobática os muros e paredes do prédio, usando exatamente as estruturas presentes na catedral original e que estão também no filme. Outro exemplo desse cuidado é a cena em que Quasímodo apresenta os sinos da catedral à Esmeralda, citando o nome deles. Cada detalhe de cada sino é representado fielmente na animação, dando lógica à idéia dos nomes diferentes para cada um, já que seus designs são suas personalidades.

O humor também não está de fora do filme. Levando em conta que a trama em si é um tanto quanto dramática e pesada, o alívio cômico do filme fica por conta do trio de gárgulas falantes amigas de Quasímodo. Victor, Hugo e Laverne protagonizam a maioria das cenas engraçadas do longa, incluindo aí as melhores piadas e a ótima canção “O Seu Glamour”, já citada anteriormente. O trio representa na verdade o inconsciente de Quasímodo que, preso na catedral durante toda a sua vida, fantasia com a amizade das gárgulas, como forma de se socializar de alguma forma com alguém além do seu mestre Frollo. A idéia de que a animação das gárgulas é fruto da imaginação de Quasímodo fica implícita no filme, já que elas sempre voltam a ser estátuas quando alguém, além do corcunda, entra em cena. Elas apenas ganham vida quando estão a sós com ele.

Apesar da grande quantidade de personagens cativantes, “O Corcunda de Notre Dame” no final realmente conta a saga de Quasímodo. No caso do romance de Victor Hugo, Quasímodo não é tratado como protagonista. Ele é apenas um personagem importante. O livro tem na verdade a própria Notre Dame como protagonista já que a intenção de Victor Hugo na época era fazer um romance histórico, para incentivar as pessoas a preservar a catedral. Não é à toa que o título original é “Notre Dame de Paris”. O corcunda só foi aparecer no título quando a obra foi adaptada para o inglês. No filme, o contrário acontece: Notre Dame é apenas o palco de uma história que tem Quasímodo como total protagonista, contando toda a sua história desde sua origem cigana até os acontecimentos que o levam a enfrentar o próprio mestre para salvar quem ele ama.

Sim, Quasímodo também se apaixona por Esmeralda no filme, porém sua paixão não é correspondida, já que ela se apaixona ao mesmo tempo por Febo. Acho que é a única coisa que ficou estranha na trama. Se no livro Febo morre para salvar Esmeralda e depois ela mesma morre, levando Quasímodo à loucura, no filme os três se mantém vivos. Então a idéia dos autores foi deixar claro para Quasímodo em certa altura da trama que ele e Esmeralda são apenas amigos e juntar a mocinha com o galã coadjuvante com cara de príncipe Disney. Não vou questionar, mas fico um pouco triste por Quasímodo. Ficou parecendo que ele só serve para ser amigo…

A inocência de Quasímodo também é escancarada em grande parte da trama. Ao crescer ouvindo de Frollo que ele não passa de um monstro no qual o mundo não está preparado para acolher, o corcunda cria em torno de si um bloqueio ao mundo real que só é quebrado depois de ver a verdadeira face de Frollo e a grande mentira que foi a sua vida. É essa a grande sacada do filme, na minha opinião. A trama brinca discretamente com termos como “humanidade” e “monstruosidade”, criando uma comparação direta entre Frollo e Quasímodo baseada em suas atitudes. Confesso que só fui entender a metáfora presente no filme, anos depois, já adulto, quando revi o longa depois de muito tempo sem assistir. Na cena de abertura, quando o artista cigano Clopin começa a contar a história, e no final, quando ele encerra a trama, o espectador é apresentado a uma espécie de enigma, que deve ser resolvido durante o longa. Enigma esse que retrata exatemente toda a mensagem por trás da trama. Portanto, se você ainda não viu “O Corcunda de Notre Dame”, te convido a assistir e repito aqui às palavras cantadas por Clopin no início do filme e que, já adulto, me fizeram chorar ao realmente entender o que, quando criança, não tive malícia nem inteligência para absorver e aprender com essa linda história sobre preconceito e superação.

"Responda ao enigma assim que puder ao soar de Notre Dame.
Quem é o monstro? E o homem quem é?
Dizem os sons de Notre Dame."

Crítica publicada no dia 16 de março de 2011 no site Disney Mania.

TOY STORY 3 – Crítica de Fã para Fã


Quando as luzes do cinema apagaram hoje na sessão de Toy Story 3, senti uma enorme alegria por ter a certeza de que, nas cerca de duas horas seguintes, iria rever personagens, histórias e, por que não, velhos amigos que por tanto tempo senti falta. E estava absolutamente certo. O resultado de Toy Story 3 foi algo muito difícil para mim, fã desde pequeno, de descrever. Estou tendo sérios problemas aqui para manter a calma e fazer um texto coerente. Minha vontade era abrir a janela e gritar para todos os prédios vizinhos ouvirem que hoje vi um dos meus filmes favoritos pela primeira vez! Mas enfim, vou me ater aos fatos e falar do que realmente interessa.

Toy Story 3 é uma obra-prima. Sem sombra de dúvidas, como canso de repetir para quem pergunta, a Pixar é o estúdio mais genial e competente que o cinema possui atualmente. Desde a parte visual e gráfica até todo o desenvolvimento da trama, o filme não deixa nada a desejar. Eu disse nada! Se antes de assistir eu já esperava achar o filme maravilhoso, como sempre espero de um filme Pixar, depois que terminou percebi o quanto ele superou as minhas expectativas em todos os sentidos.

A história se passa dez anos depois dos dois primeiros filmes. Andy, agora com 17 anos, está indo para a faculdade e sua partida gera desespero nos seus velhos brinquedos, agora esquecidos dentro do escuro baú do seu quarto. A grande incerteza é saber que destino eles terão: o sótão ou o lixo. Como de costume, mal-entendidos acontecem e todos vão parar por engano na creche Sunnyside. Já conformados com uma vida sem Andy, eles são rapidamente recebidos com festa e acolhimento pelos outros brinquedos, representados pelo urso de pelúcia Lotso. Porém, aos poucos percebem que Sunnyside não é o local agradável e cheio de crianças meigas que tiveram como primeira impressão. Sob as ordens de Lotso, que revela uma personalidade inesperada, os brinquedos do Andy, com exceção de Woody, vão parar em uma sala onde crianças muito pequenas brincam de forma violenta e irracional, puxando, jogando e quebrando tudo que vêm pela frente. A partir daí o principal objetivo deles, liderados pelo cowboy, é fugir de Sunnyside e encontrar um novo lar e uma nova criança para chamar de dono. Claro que a trama vai muito além do que uma simples missão de fuga. Em todo o filme fica claro o quanto os brinquedos, principalmente Woody, são devotados e leais a Andy. Eles fazem de tudo (tudo mesmo) para voltar a revê-lo quando, já em Sunnyside, descobrem que ele está a procura deles.

Confesso que esperava mais do 3D no filme. Apesar da sensação de profundidade que algumas cenas nos passam, o efeito quase não é percebido durante boa parte do longa, portanto acho que em 2D teríamos a mesma sensação que em terceira dimensão. Porém vale a pena pagar mais caro simplesmente para assistir ao curta Dia e Noite que antecede o filme. Percebi que ele foi idealizado para ser visto em terceira dimensão. Além de belíssimo visualmente, possui uma mensagem nas entrelinhas muito interessante e que me fez ver como a Pixar se preocupa com a qualidade de tudo que cria, inclusive seus curtas-metragens, normalmente ignorados pela grande massa, que só quer ver mesmo o filme.

Voltando a Toy Story, a parte técnica do filme é perfeita. Todas as cenas são de um realismo e beleza indescritíveis. Os brinquedos possuem um tratamento impecável, com direito a encardidos, arranhões, manchas, entre outras coisas. Sem falar na reprodução de materiais como plástico e, o mais impressionante na minha opinião, o pêlo de Lotso, idêntico ao de um urso de pelúcia de verdade. O cenário foi outro ponto forte da animação. Ao vermos Sunnyside pela primeira vez, a sala de cores vivas, primárias e alegres nos passa a sensação de segurança e felicidade, assim como acontece com os brinquedos. Porém, quinze minutos depois, ao vermos o que realmente aguarda os brinquedos na creche, toda a aparência do lugar muda de algo acolhedor para algo hostil e em vários momentos assustador.

Por falar em assustador, pela primeira vez senti medo em um filme da Pixar. Não medo a ponto de ter pesadelos ou ficar assombrado, como em um filme de terror, mas a trama em vários momentos assume tons altamente tensos e até apavorantes (o macaco que é o olho-que-tudo-vê de Lotso é irritantemente assustador com aquele grito agudo). Aliás, a história é eclética o tempo todo, variando desse suspense para o humor, sempre na medida, como de praxe no estúdio (o Ken tem cenas muito boas, assim como o Sr. Cabeça de Batata). Sem falar que nunca a nostalgia foi tão bem utilizada em uma sequência quanto nesse filme. Até o Buzz voltando a achar que é um patrulheiro das galáxias continuou engraçado!

Toy Story 3 é uma montanha-russa de sentimentos que te deixa tenso, te faz rir e cair em lágrimas como um bebê em pequenos intervalos de tempo. Não só pelo lado nostálgico da série que, como disse, foi bem aproveitado no filme, mas por nos fazer esquecer em vários momentos que estamos vendo um filme sobre brinquedos que falam. Em muitas partes da história nos vemos na pele daqueles pequenos indefesos e desesperados e nos identificamos com seus medos e traumas. A maioria dos filmes Pixar nos faz entrar na trama como se o filme falasse de nós mesmos, mas nunca me vi tão retratado na tela como hoje. Sempre fui uma criança cuidadosa, não só com meus brinquedos, mas com tudo que tive. Isso sempre fez eu me sentir retratado na pele de Andy: inventando histórias mirabolantes de aventuras épicas com meus brinquedos. Porém nesse filme me vi retratado não mais na criança brincando com seus brinquedos, e sim no garoto prestes a virar adulto. Ao se ver longe daqueles brinquedos, seus amigos e companheiros por tantos anos, vi em Andy um certo medo de assumir que ele não pode mais brincar com eles. Vi nele a mesma tristeza que os próprios brinquedos sentem ao se afastar dele. Tristeza por não poder mais se trancar no quarto por uma tarde e contar a história de como Woody, Jesse e Buzz salvaram o mundo dos planos do Malvado Senhor Porcão e do Sr. Cabeça de Batata. Mas acima de tudo vi em Andy medo de crescer. A cena final do filme deveria, na minha opinião, entrar para a história do cinema. Nunca uma relação de amizade, muitas vezes ridícula para adultos como nós, foi retratada com tanta delicadeza, cuidado e emoção. Pois, apesar de brinquedos, para Andy eles sempre foram amigos, companheiros que sempre estiveram ao seu lado.

A Pixar realmente conseguiu fazer história de novo, assim como fez com o primeiro longa dessa trilogia, sendo a pioneira da animação digital. Eles mostraram mais uma vez como uma verdadeira sequência deve ser, dando uma aula a muitos estúdios que insistem em franquias prolongadas apenas para lucrar, não só com humor forçado mas também com histórias fracas (sim, estou questionando a volta sem sentido e sem necessidade de um certo ogro, mais que ultrapassado, aos cinemas). Se eu estava meio preocupado com as continuações de Carros e Monstros S.A., novos projetos do estúdio nos próximos dois anos, agora posso ficar tranquilo, pois eles me mostraram que realmente sabem dar sequência a uma história de forma majestosa. Três horas depois de ter começado essa crítica, espero ter conseguido expressar nessas humildes palavras tudo que se passou pela minha cabeça hoje. Fiquei realmente muito feliz com esse filme e com essa conclusão de uma história que tanto me marcou, desde criança. Afinal, de que mais esse filme trata além de infância e, como lembra também a nostálgica música, amizade?



“O tempo vai passar
Os anos vão confirmar
Às três palavras que eu proferi
Amigo estou aqui”


Crítica publicada no dia 19 de junho de 2010 no site Disney Mania.

O Último Mestre do Ar


M. Night Shyamalan. Esse é o nome chave desse filme. Se o resultado foi o que agora está sendo exibido nos cinemas, a culpa é desse cara. Vindo de uma carreira que eu representaria como um gráfico de uma função expoente descrescente (relevem o meu novo lado matemático de ser, culpa da faculdade), Shyamalan teve seu auge com O Sexto Sentido, filme que tenho que concordar é muito bom. Depois seus trabalhos começaram a perder o sentido e aquela pegada original necessária para fazer sucesso com a grande massa e com os críticos. Filmes como A Vila, A Dama na Água, Sinais, Fim dos Tempos entre outros foram alguns dos sucessores do famoso "Eu vejo gente morta", mas não tiveram o mesmo sucesso. Desses quatro que citei, só gosto mesmo de Sinais, por causa da temática extra-terrestre que sempre me atrai. Do resto só não assisti A Dama na Água, mas posso dizer que dispenso os outros dois com fervor. Não vou falar sobre a carreira do cara, que ainda considero um diretor legal. Estou aqui para falar de O Último Mestre do Ar, trabalho mais recente de Shyamalan.

Para quem não sabe, o filme é uma adaptação da série de desenhos da Nickelodeon, Avatar: A Lenda de Aang. A base da história é a mesma, com a única diferença que o filme é um grande resumo de toda a primeira temporada da série, conhecida como Livro Um: Água. A trama se passa num mundo onde pessoas podem "dobrar" os quatro elementos, ar, água, terra e fogo. Várias nações e tribos estão sendo manipuladas e ameaçadas pela nação do fogo. É aí que dois irmãos, Katara e Sokka, encontram um menino que ficou congelado por 100 anos no gelo. O menino, de nome Aang, se diz ser um dobrador de ar, espécie de dobrador já extinta e ser o Avatar, único no mundo capaz de dobrar os quatro elementos ao mesmo tempo. Juntos, Aang, Katara e Sokka vão partir para o norte para que Aang possa aprender a dobrar a água e assim enfrentar a nação do fogo.
Eu adoro essa temática de elementos e gosto bastante da idéia de poder manipular elementos da natureza. Só com isso já acho que esse filme tinha tudo para ser visualmente bonito e ter uma trama interessante. Bom, o filme é incrivelmente bonito. Os cenários, figurino, lutas e principalmente as cenas de dobra dos elementos são de encher os olhos, porém o roteiro é terrivelmente ruim. Na tentativa de compilar toda uma temporada de 20 episódios em menos de duas horas de filme, o roteiro se transformou em uma narrativa corrida, com informação demais e tempo de menos e muitas, MUITAS vezes incoerente. A quantidade de cenas sem sentido, desnecessárias e mal editadas é enorme, fazendo o filme perder o ritmo em vários momentos e nos fazer perguntar: "Oxe! Que diabos de cena foi essa?".

Diferente do desenho, que abusa do humor, o filme tem um tom sério a maior parte do tempo, com pouquíssimas cenas de humor, o que cria uma atmosfera de tensão que poderia ser muito bem trabalhada. Porém aí entra outro defeito: a atuação do elenco. Alguns personagens não conseguiram mostrar a que vieram, representando de forma fraca e não dando à já citada atmosfera de tensão, a devida importância. Mais um ponto que deveria ter sido trabalhado por Shyamalan, já que seus filmes sempre possuem um lado psicológico fortíssimo. Pelo menos o protagonista, que é estreante, conseguiu interpretar bem o seu papel e não me decepcionou.
Mas é claro que não vou criticar negativamente o filme o tempo todo. Como disse, o visual do longa é lindo do início ao fim (até os créditos são bonitos de se assistir), com fotografia legal, cenários imensos e com uma arquitetura linda. Outro ponto que posso elogiar é a trilha sonora, composta por James Newton Howard (O Cavaleiro das Trevas e As Crônicas de Nárnia), que é incrivelmente empolgante, combina com o clima zen do filme e sabe dar ritmos às cenas de batalha. Preste atenção na música no clímax da Batalha da Nação da Água do Norte no final do filme. É simplesmente épica.

Enfim, O Último Mestre do Ar poderia ser um filmaço. Tinha trama, material e diretor para isso, mas infelizmente não saiu como deveria. Recomendo como uma diversão passageira, pois não é nenhuma obra-prima. O 3D também não tem nada demais. Quase nada sai da tela, o que me faz pensar se ainda devo pagar pra ver esses filmes convertidos para o 3D, ou se devo apenas ver em 2D, já que têm o mesmo efeito. Não trato o filme como a crítica americana e brasileira têm tratado. O filme não é nenhuma ecatombe do cinema. Já vi filmes muito piores esse ano, por isso digo que O Último Mestre do Ar tem o seu valor, pena que não é tão valioso como um Avatar seria para os interesses da tribo do fogo...

Percy Jackson e o Ladrão de Raios


É difícil escrever sobre uma adaptação de um best-seller para os cinemas. As opiniões sempre ficam divididas entre os que gostaram ou não. Normalmente os grandes estúdios ficam felizes quando pelo menos metade dos espectadores ficam satisfeitos com o filme. O problema é quando a maioria deles é formada por fãs do determinado livro e que saem dos cinemas revoltados com o que viram nas horas anteriores. Acreditem, essa cena tem se repetido por todos os cinemas que passo, e deve estar se repetindo pelo mundo todo também, com os fãs da série sobre mitologia grega Percy Jackson e os Olimpianos.

Primeiro vamos ao livro. Apesar de possuir uma narrativa de certa forma infantil e simples, o livro possui uma trama muito interessante e amarrada. Reviravoltas não faltam na história e a tensão é mantida do primeiro capítulo até o último. Claro que certos mistérios são meios óbvios de serem resolvidos, mas a história não perde sua força por isso. Pelo contrário, os leitores ficam ainda mais ávidos para descobrir o por que de certa profecia dizer algo tenebroso ou o por que de alguém ter de trair os amigos. A série foi tão bem recebida em todo mundo que Rick Riordan, autor da séries de cinco livros, já pretende lançar outro livro com a temática de mitologia grega e seguindo a mesma direção de Percy Jackson! Até agora, só os quatro primeiros livros foram lançados no Brasil pela Editora Intrínseca. O último tem previsão de ser lançado até o fim do primeiro semestre de 2010. É impossível não concordar que um filme adaptando a série seria um sucesso de bilheteria, como Harry Potter ou As Crônicas de Nárnia. Mas isso não aconteceu com Percy Jackson.

Se o livro possui uma trama amarrada, complexa e, acreditem, muito fácil de se adaptar para o cinema, o filme se tornou uma história fútil, cheia de furos, e mais um filme de comédia do que uma aventura fantástica. Fui na pré-estréia do filme e ontem fui ao lançamento do quarto livro (A Batalha do Labirinto) com o Fã-Clube da série, e posso dizer que muitos fãs estão querendo “matar” Chris Columbus, o diretor desse primeiro filme, pelo o que viram nos cinemas. Lembrem-se que Chris foi o responsável pelos dois primeiros filmes de Harry Potter, que foram um dos mais lucrativos da história do cinema! Porém, como discutido ontem por alguns fãs mais calmos, o problema não foi Chris Columbus, mas sim o roteirista Craig Titley que, ao receber o trabalho de adaptar o primeiro livro, pegou somente a base mais simples da história e criou outra completamente diferente por cima. Personagens foram cortados (inclusive o vilão da série), deuses foram mudados de lugar na história e muitos personagens tiveram suas personalidades mudadas! Sem falar no fato de que, no primeiro livro, Percy Jackson tem entre 11 e 12 anos, e no filme ele aparece com 16!

Sei que quem não leu os livros e não conhece a série deve estar se perguntando quem é Percy Jackson ou quem são esses deuses que falei. Bom, a base da história, tanto do livro, quanto do filme, é contar a história de Percy Jackson, uma garoto desléxico e com déficit de atenção que descobre que é filho de um Deus do Olimpo. Sim, na série, os Deuses do Olimpo ainda vivem entre nós e, de tempos em tempos, descem à Terra onde têm relações com mortais, deixando possíveis filhos, os chamados meio-sangues ou heróis. Ao descobrir que é um semi-deus, Percy Jackson vai parar no Acampamento Meio Sangue, uma espécie de Hogwarts, onde os meio-sangues são treinados para enfrentar os monstros e perigos mitológicos espalhados pelo mundo. Porém, nesse meio tempo, o raio supremo de Zeus é roubado misteriosamente, causando discórdia entre os deuses e podendo desencadear uma possível guerra caso não seja devolvido. E Percy é exatamente o primeiro suspeito de ser o Ladrão de Raios. Então, com a ajuda de Annabeth, filha de Atena e Grover, um sátiro, ele sai em busca do tal Raio de Zeus para recuperar a paz ao seu mundo. Só por essa enorme sinopse vocês já tiram o quanto a história é complexa! E isso não é nem metade do que é contado nos livros! Porém no filme, tudo é cortado e uma jornada completamente diferente é criada para mostrar a busca de Percy pelo raio de Zeus.

Apesar de tudo que disse, nós também devemos ver o filme com os olhos de uma pessoa leiga que nunca leu nenhum livro da série, já que muita gente vai ver sem saber do que se trata. E por mais que eu tenha criticado o filme até agora, ele funciona muito bem como um filme isolado. É divertido, tem ótimas cenas de ação e é muito mais bem produzido do que eu pensei que seria. Crédito, é claro, de Chris Columbus, que dirigiu bem o filme e conseguiu deixá-lo ágil e com cara de filme família, como fez com Harry Potter. Claro que o roteiro tem muitos furos, porém o longa funciona para entreter famílias e trazer possíveis novos fãs para a série. Os efeitos especiais, que achei que não seriam bons, têm um nível de qualidade muito bom, que dá ao filme um ar mais real (o Mundo Inferior ficou incrível). O humor é muito forte durante as duas horas do filme. Destaque para Grover, interpretado por Brandon T. Jackson, que se tornou o personagem com a função de inserir uma piada sempre que a trama fica tensa. Ficou um pouco comédia demais, mas diverte. Para quem não assistiu ainda, destaco também Poker Face de Lady Gaga que toca na cena do Cassino Lótus e que virou a música tema do filme para os fãs, além de se tornar o comentário no cinema! ♫ Mah Mah Mah Mah ♫ (Não resisti… :-p)

Enfim, a única coisa que posso dizer é o seguinte: Se você nunca tiver lido o livro, vá ver o filme pois é quase certo que pelo menos você vai se divertir e dar boas risadas. Se você leu o livro e ainda não assistiu, sugiro que vá ver mesmo depois de tudo que falei (eu vi duas vezes na mesma semana, e não morri. Você vai sobreviver mesmo se não gostar do filme). Confesso que a revolta vai ser um pouco grande pra quem tem um carinho pela série, mas vale a pena para ver o resultado e, como falei, pela diversão que o filme consegue trazer. Cabe a cada um decidir e, após o filme, analisar e tirar suas próprias conclusões. Quem já tiver visto, comente o que achou do filme. Quem não viu mas ainda vai ver, volte aqui depois e comente o que achou! Pois, assim como a maioria das adaptações de livros para o cinema, Percy Jackson pode gerar ainda muita discursão.

Como Treinar o Seu Dragão


Animações costumam ter o poder de atrair uma enorme quantidade de público aos cinemas devido ao apelo infantil que costumam ter. Estúdios como Pixar, Dreamworks, entre outros, todo ano fazem o melhor que podem para lançar o melhor filme de animação do ano. Eu, pessoalmente, sou um fanático pela Pixar, e idolatro eles com o fundo do meu coração. Seus filmes fizeram parte da minha infância e marcaram a minha vida, sem exceções. Depois que passei a observar mais o mundo do cinema e conhecer técnicas e tudo o mais, passei a expandir mais meus horizontes, procurando outras animações além das da Pixar. Vou confessar que, até essa semana, a Dreamworks ainda estava num conceito muito abaixo do da Pixar na minha opinião. Apesar de fazer um enorme sucesso com filmes como Shrek, Kung Fu Panda e Monstros Vs. Alienígenas, a Dreamworks sempre representou pra mim filmes de comédia quase pastelão no mundo da animação, enquanto os filmes da Pixar possuiam um humor mais direcionado, sem piadas idiotas e com histórias que nos traziam uma mensagem no final e não só risadas. Pois bem, mudei minha forma de pensar sobre a Dreamworks depois de assistir Como Treinar o Seu Dragão.

O filme, adaptado do livro de mesmo nome, conta a história de Soluço, filho de um Viking que mora em uma aldeia constantemente atacada por dragões. O sonho do protagonista é se tornar um grande matador de dragões, porém suas ações levam todos a crer que ele não leva jeito para a “profissão”. Durante um ataque, Soluço consegue derrubar e capturar um Fúria da Noite, o dragão mais perigoso e misterioso de todos. Como é comum com as crianças, ninguém acredita em sua história quando ele a conta. Ao encontrar o dragão abatido, Soluço descobre que não consegue matar dragões e solta a criatura, que depois se torna amigo dele, recebendo o nome de Banguela. Nesse meio tempo, seu pai o obriga a entrar no “curso” de treinamento para se tornar um matador de dragões. É aí que começa uma vida dupla, enquanto tenta sobreviver ao curso, Soluço desenvolve uma forte amizade com Banguela às escondidas que traz a ele uma forma diferente de ver o modo de viver dos dragões.

Como comentei, a Dreamworks sempre fez filmes em que os heróis e personagens principais sempre eram uma espécie de bobão atrapalhado que, para fazer rir, sempre caia, se batia em alguma coisa, ou causava algum desastre, fazendo todo mundo rir, como foi o caso do Panda Po, e o Burro de Shrek. Diferente da Pixar, que cria personagens profundos, com uma história forte e altamente apaixonantes como Wall-e, Nemo e Carl Fredericksen. Não estou desmerecendo a Dreamworks pelos trabalhos anteriores, só acho o estilo dos filmes inferior, ao se fazer uma comparação direta com a Pixar. Porém, em Como Treinar o Seu Dragão, não há esse humor, paradoxalmente, sem graça. As cenas engraçadas, realmente são engraçadas, e os personagens têm uma carga emocional muito forte. Aliás, a trama em si é densa. A amizade de Soluço com seu amigo dragão é delicadamente desenvolvida, fazendo a platéia se apaixonar pelo bicho e querer um igual para levar para casa. O mesmo acontece com a relação entre Soluço e seu pai, que possui um forte tom dramático e me fez encher os olhos de lágrimas no fim. Sem contar que o fator realidade está fortemente presente na história. (Half – Spoiler) A morte sempre é uma opção em cenas de ação e ferimentos graves são comuns, como realmente acontece com um certo alguém no clímax.

Apesar de tudo, todos os filmes da Dreamworks sempre tiveram um visual incrível, com cenas lindas de se assistir, como foi o caso de Kung Fu Panda. O mesmo acontece com esse filme. Cada dragão possui um estilo e forma diferente, o que os torna muito mais interessantes, pois passam a ter uma personalidade própria. As cenas de voo entre Banguela e Soluço são de tirar o fôlego e também incrivelmente bonitas. E todos os cenários são cuidadosamente trabalhados, dos mínimos detalhes à arquitetura da aldeia. Tudo isso é ainda melhor ao se assistir ao filme em 3D. Durante as cenas de voo, constantemente assistimos a cena do ponto de vista do dragão, o que nos faz entrar na tela e até sentir um certo frio na barriga. A profundidade é muito bem aproveitada e a Dreamworks finalmente acerta como usar o 3D de forma inteligente e interessante.

Como Treinar o Seu Dragão me surpreendeu, e muito. Faço questão em dizer que já é o meu favorito para o Oscar de melhor animação de 2010. Claro que a Pixar lança Toy Story 3 no meio do ano, o que pode mudar minha cabeça. Não sei qual vai se sair melhor, mas Como Treinar o Seu Dragão chegou para deixar sua marca nas nossas mentes, mostrando que a Dreamworks pode estar tendendo, em seus próximos lançamentos, para um caminho mais profundo no mundo da animação, onde os filmes deixam de ser apenas um produto de venda e diversão, mas também uma obra de arte que deve, e merece ser apreciada muitas e muitas vezes. Que eles se sintam à vontade, pois a fórmula eles já descobriram, só falta explorá-la da melhor forma.

Obs: Os apaixonados por Banguela, como eu, já estão tentando botar a tag #EuQueroUmDragao nos Trending Topics do Twitter. Quem quiser ajudar, fique a vontade! \o/

UP – Altas Aventuras


Primeiramente posso dizer que por ser um filme Pixar, não esperava nada menos do que esse filme foi… Quando uma amiga minha perguntou que filme era esse antes de nós entrarmos no cinema, eu disse:

- É da Pixar…

Aí ela disse:

- Sim! Mas que filme é esse?

E eu respondi:

- É DA PIXAR! Preciso dizer algo mais que isso?

E é exatamente isso que acontece. Os filmes da Pixar são os únicos filmes que vou para o cinema com a certeza de que vou sair satisfeito. Seus criadores, na minha humilde opinião, são os mais geniais do cinema moderno, pois a cada filme que eles fazem, eles se superam e criam coisas cada vez mais novas e inusitadas. E o inusitado está o tempo todo presente nesse filme, dirigido por Pete Docter e Bob Peterson (Os mesmos diretores de Monstros S.A.).

Se visualmente falando os críticos do mundo todo estavam esnobando da Pixar por criar um protagonista velho e ranzinza, dizendo que não venderia nem atrairia público, eles conseguiram transformar esse velho ranzinza em um dos personagens mais bonitos, simpáticos, tocantes e marcantes da história dos 10 filmes da empresa. Sua história é muito triste e ao mesmo tempo bela. Não há como explicar o que eu senti nos primeiros minutos do filme, quando é contada toda a história de vida de Carl Fredricksen (o tal velinho) sem nenhuma fala. Não porque não tinha o que falar, mas por não ter necessidade disso! As imagens pareciam ter fala, e foi genial como conseguiram contar a vida de uma pessoa de uma forma tão simples e ao mesmo tempo impactante. Não tinha dado nem 10 minutos de filme e já estava me sentindo triste por Carl. Pois enfim, a trama se desenvolve e somos apresentados à Russel, pequeno desbravador da natureza com apenas 8 anos que resolve ajudar Carl de alguma forma para conseguir um broche de ajuda ao idoso. Se a primeira imagem que você tem de Russel é que ele é apenas a criança engraçada e irritante da história, mais tarde também nos surpreendemos ao ver que até Russel tem mágoas e tristeza em sua vida. Mas voltando ao início, para fugir da obrigação de ir para um asilo, Carl faz sua casa voar atráves de balões de hélio, mas acaba levando Russel junto. O destino? América do Sul! Rumo ao Paraíso das Cachoeiras, uma terra perdida no tempo. A viagem dos sonhos dele e da falecida mulher, Ellie representada o filme todo pela casa em si. Carl em vários momentos conversa com a casa como se a esposa estivesse realmente presente. Pois enfim, a partir do momento que a viagem inicia, a trama começa a se desenvolver e só assistindo para ver o desfecho…

Quanto à comédia, é brilhantemente mesclada com o forte tom de drama da história na figura, não só de Russel, mas de Doug, o cachorro falante (ESQUILO!) e de Kevin, uma ave desconhecida que Russel encontra, acaba adotando e que ganha, no meio do filme, um papel muito importante na trama. A ação é constante durante toda a viagem até a America do Sul, e, nos cinemas, essa ação ainda tinha como atrativo o 3D que, apesar de não apresentar muitos objetos saltando para fora da tela, proporcionava uma enorme sensação de profundidade. Nas cenas em que personagens ficam pendurados a muitos metros de altura, tinhamos a sensação de que nós podíamos cair a qualquer momento junto com eles. Claro que, em DVD a diversão não é menor. Mas quem sabe em breve, com essas novas TV’s 3D nós não poderemos ver o filme nesse formato no conforto de casa? É uma grande possibilidade!

Quanto à mensagem do filme. Na minha opinião foi umas das mais bonitas até agora entre todos os filmes da Pixar, empatando principalmente com Procurando Nemo que também me marcou muito. Mas acho que o lado dramático da história ajuda a fazer a mensagem desse filme muito mais profunda do que o amor de um pai com um filho, pois o filme fala da vida, de sonhos, de frustrações, de amor, de amizade, de família. Coisas que, creio eu, estão presentes na vida de todos, principalmene na minha. Não foi surpresa quando eu me vi chorando como um bebê na cena em que Carl abre o álbum/diário da mulher e revê toda a sua vida. Me fez olhar a minha vida com outros olhos… E no final, mais uma vez chorei ao ver a amizade de avô e neto que Carl desenvolve com Russel, e que me emocionou muito. Essa foi a primeira vez que chorei em um filme Pixar!

Há coisas que não precisam ser ditas. E esse filme é a prova disso. A profundidade da mensagem da trama vai além do que é mostrado no filme. Qualquer pessoa consegue se identificar com os personagens e realmente acho esse o maior trunfo da Pixar. Todos os seus filmes são para nos passar algo de bom, de positivo, de bonito. Se você ainda não viu esse filme, eu ordeno (sim, isso é uma ordem) que você levante agora de onde quer que esteja sentado e vá procurar o DVD na loja ou locadora mais próxima, já que ele já saiu do cinema. Quando vi no cinema, fiquei alguns dias eufórico com tudo que UP trouxe pra mim em termos de emoção e deslumbramento quanto à qualidade da animação. Mesmo depois de ver várias vezes em casa, ainda me sinto como se estivesse vendo pela primeira vez. E fica a pergunta: Como é possível que a Pixar se supere mais uma vez agora? Esse ano chega Toy Story 3 aos cinemas, e depois Carros 2. Vai demorar um pouco para que tenhamos mais um filme com personagens e tramas novas, mas com certeza, essas continuações serão ainda melhores que os primeiros. Afinal, estamos falando da Pixar, dos seus gênios e de seu irresitível poder de atrair qualquer um para mundos onde aventuras, como UP, se tornam muito mais que aventuras…

Avatar



Em 1997, James Cameron surpreendeu o mundo com o polêmico e, na minha opinião, estonteante Titanic. O filme, que ultrapassou o orçamento previsto na época gerou tanta expectativa que, ao ser lançado nos cinemas, se tornou a maior bilheteria da história, cargo que assume até hoje. Porém, doze anos após Titanic, James Cameron nos oferece algo muito mais inovador e incrível do que um navio afundando. Em Avatar, ele nos leva a um planeta chamado Pandora, totalmente criado pela sua imaginação. Em pleno século XXII, quando os humanos - em sua já conhecida procura por poder e ganância – invadem o planeta alienígena em busca de um valioso mineral, a existência do povo nativo do lugar, os Na’Vi é ameaçada. No meio dessa guerra, chega ao planeta o jovem Jake, fuzileiro naval que recebe a missão de controlar um Avatar, corpo Na’Vi feito para ele, se socializar com o povo e negociar a mudança deles do local onde vivem. Porém, caberá a Jake decidir qual lado é o certo: o dos humanos com sua sede de poder, ou o dos Na’vi, defendendo o seu planeta. Pode parecer um tema já batido (quem não se lembra de Pocahontas, mudando a forma de pensar de John Smith?), mas Avatar vai muito além do que isso.

O filme, que demorou quase uma década para ser produzido, chega para revolucionar a história do cinema. James Cameron criou toda uma nova teconologia ao fazê-lo, incluindo câmeras montadas do zero. A captura dos movimentos dos atores para dar vida aos seus respectivos Na’Vi foi o primeiro passo para uma enorme pesquisa em busca de novidades para a criação de seres perfeitos, digitalmente falando. E James Cameron, através do maior orçamento da história do cinema (500 milhões de dólares), consegue isso com maestria. O povo nativo de Pandora parece extremamente real - até a lágrima da personagem de Zoë Saldana é como se fosse a de um humano – e, depois que a trama se desenvolve mais, nos envolvemos com seus dramas e com seu mundo, ao ponto de nos abalarmos com cada Na’Vi, ou árvore de Pandora que morre.

Aliás, falando de Pandora, o mundo criado por JC (James Cameron) praticamente tem vida própria. A forma como ele imaginou o mundo e a forma como ele funciona é genial e extremamente poética! Não tem como não se fascinar com Eywa, a entidade que o povo idolatra na história e que na verdade é uma espécie de grande “sistema” responsável pela vida e equilíbrio de todo o planeta. Nas telas, cada planta, árvore, criatura ou flor psicodélica parece extremamente real e viva, como se tivesse sido realmente filmada ao vivo, e não criada por um computador. A longa rede de ligações que liga toda a forma de vida no planeta é uma forma de criar uma religião com um forte tom de ciência. Essa é uma, das muitas críticas que percebemos durante o filme e direcionada diretamente para que pensemos mais sobre a nossa realidade.

O Coronel Quaritch, uma espécie de Hitler bruto e sem escrúpulos, já tem seu lugar garantido como um dos maiores vilões dos útimos anos. Sua presença representa - diretamente – a raça humana que conhecemos hoje, capaz de destruir qualquer coisa no seu caminho para conseguir o que quer. E é exatamente isso que ele faz. A primeira metade do (longo) filme é basicamente tudo o que você já viu nos trailers exibidos massivamente nos cinemas, mas de forma melhor explicada. Porém, depois da metade, a quantidade de reviravoltas e eventos incríveis na trama faz o filme se tornar extremamente empolgante. Poucos filmes nos últimos anos conseguiram me prender e me cativar tanto quanto Avatar conseguiu.

Avatar é um projeto que muitos estavam dizendo não apresentar nenhuma novidade, devido ao seu longo tempo de produção, mas traz ao público algo muito mais inovador do que qualquer um poderia imaginar. A questão é, como assistir ao filme? Em algumas cidades, o filme tem sido exibido de 4 formas diferentes: Legendada ou Dublada e em 3D ou 2D. Quando assisti, vi o filme Dublado, na versão em 3D. Posso dizer que achei tudo perfeito, inclusive a dublagem! A direção de dublagem feita pelo dublador Guilherme Briggs foi perfeita e convence o espectador. Até a língua e sons nativos são dublados com maestria. Sugiro que se assista ao filme - pelo menos na primeira vez, porque você vai querer ver de novo - dublado devido à enorme quantidade de efeitos, que tomam grande parte da tela. Com as legendas, a atenção ficaria dividida entre a ação e as falas, o que faz muita gente perder detalhes interessantes das cenas.

Porém a questão não é se é devemos assistir Dublado ou Legendado. A grande dúvida é se o melhor é assistir em 3D estereoscópico ou em 2D, como um filme qualquer. Eu vi em 3D e posso dizer que é a forma mais recomendável para se ver o filme. A sensação de profundidade que sentimos é de um realismo que nunca vi em nenhum 3D até hoje! Até os pequenos insetos da selva parecem estar na sala do cinema, bem na sua frente. Em muitas cidades, ainda não está disponível salas de cinema com essa tecnologia. Para quem mora nessas cidades, recomendo que assistam o filme em 2D mesmo! Soube que a quantidade de detalhes e variação de cores (realmente é bem forte) são ainda mais intensos, já que o óculos diminui um pouco o colorido das imagens. Então cabe a cada um decidir a melhor forma de se ver o filme.

Avatar, com certeza, já chegou fazendo história. Em dez dias conseguiu 650 milhões de dólares no mundo todo. Bilheteria que a maioria dos filme demoram mais de dois meses para conseguir, e mesmo assim, muitos não conseguem. James Cameron, através de mais um projeto gigantesco, altamente caro e surreal conseguiu criar um dos grandes candidatos ao Oscar desse ano, sem falar no possível substituto de Titanic como maior bilheteria da história. Nada demais vindo do “rei do mundo”. Resta saber o que mais ele falta nos trazer, agora que - além de uma possível franquia em mãos - está livre para inventar algo ainda maior do que um planeta chamado Pandora.